quinta-feira, 9 de junho de 2011

Yamada: família vive saga no Pará.


Yamada: família vive saga no Pará

COMÉRCIO

Os imigrantes japoneses que aportaram em terras paraenses no início do século passado fizeram do Estado, o alicerce de suas vidas. A família Yamada, uma das primeiras a fincar raízes no Pará, conseguiu, com muito suor e drama, um dos maiores empreendimentos comerciais do Brasil, que muito contribui para o desenvolvimento econômico da região Norte - o gruo Y.Yamada.

O império comercial começou a ser alicerçado em 1950, tendo como fundadores o patriarca da família, Yoshio Yamada, e seu filho mais velho, Junichiro. Quem se depara com o patrimônio construído por eles não imagina os sacrifícios que a família passou para chegar tão longe. Com emoção, o herdeiro Junichiro, 85 anos, atual presidente do grupo, revela para o Orgulho do Pará – lançado em 2ª edição neste ano pelo Diário – detalhes inéditos da trajetória da família que fez do Pará a sua pátria.

VISÃO

Beneficiado pela política de doação de terras a imigrantes, adotada em 1931 pelo governo de Dionísio Bentes, Yoshio decidiu se estabelecer no Pará, com a esposa Aki, os filhos Junichiro e Yuca e alguns amigos. Dois anos antes, ele já havia feito um trabalho de pesquisa para verificar a viabilidade de um empreendimento de colonização.

O primeiro atropelo ocorreu com a anulação, pelo governo de Getúlio Vargas, da concessão das terras doadas aos imigrantes, que se estendiam entre os municípios de Bragança e Ourém, no nordeste do Estado. O ato foi consumado pelo então inventor no Pará, Magalhães Barata.

A família Yamada, a partir daí, contou com a ajuda do amigo e mestre de judô Conde Koma, que viabilizou lotes de terras em Capitão Poço. Mas os imigrantes decidiram se estabelecer em Ourém.

“Meu pai falou aos patrícios que vieram com ele que só tínhamos 92 contos de réis (moeda brasileira da época) para viver nessa terra estranha onde ninguém entendia de nada”, revela Junichiro Yamada.

Pensando em conquistar amizade e consideração de pessoas importantes, sobretudo de autoridades e comerciantes, Yoshio Yamada decidiu investir em representações e grandes festas. A reserva de dinheiro, que Junichiro comparou a alguns milhões de reais, foi suficiente para manter a família durante três anos. Para sobreviver, os Yamada passaram a vender objetos de valor, inclusive kimonos, que na cultura japonesa têm grande importância e são repassados entre gerações.

Investiram o dinheiro em uma mercearia na qual vendiam de tudo, incluindo remédio. “Depois que fixamos moradia aqui, fui pra escola com seis anos e não entendia nada e nem entendia que era uma língua diferente. Com o tempo perdi a língua japonesa por conviver mais com os caboclos do que com meus patrícios”, recorda Junichiro.

Yoshio Yamada também se aventurou na extração de madeira, no município de Capitão Poço, onde, ao lado de mais 200 homens, atravessava para Belém cedro e frejó, em jangadas. Junichiro conta que brincava de caçar e acompanhava de perto o trabalho do pai. “Eu me ‘alembro’ que dois bons caçadores eram o suficiente para alimentar os 200 trabalhadores”.

COMÉRCIO

O dom da negociação, porém, sempre empurrava o patriarca da família para o comércio. Por isso, ele trocou a atividade madeireira por uma mercearia em Ourém. Mas a empreitada não vingou em função de problemas com o fisco.

A família se viu diante de outro desafio e se mudou para Belém, com ajuda de amigos. O empreendedor Yoshio logo enxergou na carvoaria um grande negocio, porque, àquela época, o produto era muito consumido pelas famílias ricas. Para complementar a renda da família, também montou uma venda de frutas.

PRISÃO

Nessa época, Yoshio foi preso sob a acusação de ser oficial japonês. “Eles (policiais) diziam que meu pai era espião, um elemento perigoso”, recorda Junichiro. Os anos no presídio São José (hoje Pólo Joalheiro São José Liberto), porém, não desanimaram o patriarca dos Yamada, que revelou nas paredes da prisão mais uma de suas habilidades, a pintura, produzindo desenhos e telas. Depois de sair da prisão, Yoshio Yamada deu mais vazão ainda à sua aptidão artística, divulgando suas obras em exposições. Uma delas, “Ver-o-Peso”, de 1963, foi premiada em Tókio.

As principais obras de Yoshio foram reunidas na exposição “O olhar de um amazônida”, transformada em livro pelo Museu da Universidade Federal do Pará, em comemoração ao centenário da imigração japonesa. A produção artística do patriarca dos Yamada foi reconhecida como representante do modernismo no Pará.

“Meu pai também gostava muito de escrever. De tudo que ele fazia, e fazia bem. Ele era um ‘ortopedista’ de primeira. Quando alguém se quebrava na academia de judô era ele quem cuidava”, conta Junichiro, orgulhoso, ao relembrar que o pai foi instrutor de judô, chegando a ensinar no Clube do Remo.

INVASÃO

Acirrada a guerra, houve o afundamento de navios japoneses na costa brasileira. Propriedades japonesas foram invadidas e queimadas. A casa dos Yamada, na travessa da Vileta, foi saqueada. “Minha mãe estava gestante do meu irmão, Hiroshi, mas tentava segurar a porta da casa para não invadirem”, conta Junichiro. O governo transferiu os japoneses para um campo de concentração em Tomé-Açu. A família Yamada ficou confinada e reduzida à mãe e aos três filhos, até o patriarca ser liberto e juntar-se a eles.

Com o fim da guerra, em 1947, eles saíram do confinamento. Yoshio decidiu subir o rio, ainda em Tomé-Açu, e levar a família para morar onde tivesse muita madeira para dar continuidade aos negócios de carvoaria.

Tornaram-se vizinhos dos índios da etnia Tembé e, da amizade com eles, nasceu um bom negócio para ambos. Os índios entregavam a produção de frutas e caças para os Yamada revenderem na cidade por os acharem melhores negociantes. De carroça, Junichiro oferecia de porta em porta alimentos e carvão.

Os Yamada tiveram uma vida meio primitiva. No lugar do açúcar, usavam a cana. Do quintal traziam comida de cada dia, como galinha caipira e porco. “Eu tenho orgulho de dizer que tive uma criação cabocla, de menino do interior, que comeu muita farinha com camarão”, diz Junichiro.

A passagem por Tomé-Açu durou pouco, já que os Yamada dariam mais uma guinada na aventura em terras paraenses. O sobrinho de Magalhães Barata, José Pedro, sub-prefeito do distrito de Mosqueiro, por achar que o tio foi injusto com Yoshio ao anular a concessão das terras de Bragança, cedeu a casa de veraneio do prefeito de Belém na ilha e uma grande área de terras. A família, acostumada às atividades comerciais, teve que aprender a lidar com plantações de hortaliças e verduras. “Tivemos que pedir ajuda aos patrícios agricultores e passamos a ser verdureiros até o nascimento da Y.Yamada”, revela Junichiro.

(Diário do Pará)

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