segunda-feira, 20 de junho de 2011

Museus em Belém.


O Renascimento dos Museus no Norte do País.

A cidade de Belém do Pará sempre foi conhecida pelos seus grandes contrastes e intenso exotismo. Infelizmente porém, tais características são ainda desconhecidas pela maior parte da população do país. Este desconhecimento se deve, em grande parte, ao crescimento do Brasil em direção especialmente à Região Sudeste, que se tornou o maior pólo socioeconômico-político e religioso da cultura nacional, seguida de perto pelas Regiões Sul, Centro-Oeste e Nordeste.

Quando se pensa em museus da Região Norte, naturalmente, e com razão, pensa-se numa das principais e mais antigas instituições museais do país: o afamado Museu Paraense Emílio Goeldi, fundado na capital da antiga província do Grão Pará em outubro de 1866, e detentor do título de primeira instituição dedicada à Ciência na Amazônia e que é, ainda hoje, referência no Brasil e no mundo devido ao acervo que possui, constituído de variadas e raras espécies vivas e em reprodução tanto da área de Botânica quanto da de Zoologia. Por outro lado porém, este parece ser o único Espaço Museológico conhecido e comentado por interessados e/ou profissionais do assunto, ficando a capital do Pará conhecida por ser a cidade de um só museu. Ledo engano.

Belém possui uma quantidade considerável de instituições museais importantes para o estudo dos museus e da Museologia e que, a exemplo de muitas outras instituições em outras regiões do país, sofreram e sofrem altos e baixos, conseqüência de más administrações, politicagem, desinteresse e incompetência de toda ordem, mas que se mantêm em pé por puro milagre.

Entre fins da década de 80 e início da década de 90, deu-se a boa notícia relativa à criação de dois espaços museais dos mais importantes para a história do Pará: os Museus de Arte de Belém e do Estado do Pará, locados nos respectivos Palácios Antônio Lemos, de 1885, e Lauro Sodré, de 1762–1771. A medida tomada pelo Governo na época, salvou da quase iminente ruína prédios que fizeram a história da região e que, hoje, compõem a malha patrimonial da cidade, tornando-a referência museológica quase obrigatória no norte do Brasil.

Dentro porém, de um período de quatro anos, deu-se uma nova estagnação: a cidade, detentora de um conjunto singular de prédios históricos, residências de época, logradouros públicos e igrejas, esperava, muda, por reformas. A região central era a mais comprometida, apesar de despontar, como única exceção, os Museus de Arte de Belém e do Estado do Pará, localizados também nos bairros centrais.

A grande virada ocorreu com o início do Projeto Feliz Lusitânia, encabeçado pelo Secretário Executivo da Cultura e amante confesso da cidade, o arquiteto Paulo Chaves. Este projeto, que representa a Revitalização Urbana do Núcleo Histórico da Cidade de Belém, já está concluído em sua maior parte. Compõe-se de três etapas: a) a criação do Museu de Arte Sacra do Pará, junto à revitalização da Igreja de Santo Alexandre e do Arcebispado, onde fica parte do Museu; b) a desapropriação, a restauração e a readaptação do casario colonial anexo à Igreja de Santo Alexandre, e que está em fase de conclusão; c) a restauração do Forte do Castelo – marco da fundação da cidade – e a restauração e a readaptação do antigo Hospital Militar, hoje transformado em Espaço Cultural – a Casa das Onze Janelas -, com um investimento orçado em R$18 milhões (dezoito milhões de reais). O Projeto também prevê a restauração da Catedral Metropolitana de Belém, próxima a todo o conjunto.

<< O MUSEU DE ARTE SACRA DO PARÁ >>

Cumprindo a primeira fase do Projeto, a capital do Pará conta hoje com o funcionamento do MAS. Localizado em um complexo que compreende a Igreja de Santo Alexandre e o Arcebispado de Belém - ambos datados do final do século XVIII -, o Museu foi criado no interior deste conjunto em 1998, com um acervo de 320 peças sacras, das quais 253 em exposição, provindas das coleções da própria Igreja e do Arcebispado, bem como da coleção de Abelardo Santos, composta de 200 peças adquiridas para integrar o conjunto quando da abertura do referido espaço. Em sua área térrea, o local apresenta também a Galeria Fidanza, um café e a boutique Empório das Artes. No primeiro pavimento estão localizadas as salas e corredores onde se encontram depositadas obras sacras bidimensionais e tridimensionais, enquanto que o segundo pavimento se destina ao Auditório, à Biblioteca, ao Laboratório de Restauro e à Reserva Técnica. A administração do espaço está localizada no sótão.

Com relação à Igreja, é interessante citar que esta não perdeu a sua função religiosa, ao contrário: ganhou amplitude de uso pois, atualmente, em seu interior, são apresentados concertos, lançamentos de livros etc.

A museografia foi composta de forma muito especial e cuidada: assina a iluminação o light e designer francês Jean François Hocquard, realizada toda em fibra ótica. Os espaços internos contam com vitrinas especiais feitas com o intuito de ressaltar os objetos, sem prejuízo porém, do que nelas está exposto, efeito que causa grande admiração do público. Todo o empreendimento foi orçado em R$ 9.537.341,60.

No bairro da cidade velha, próximo ao Museu de Arte Sacra, está o conjunto atualmente sob restauro composto do Forte do Castelo e do Palacete das Onze Janelas, que representam a execução da terceira fase do Projeto Feliz Lusitânia.

<< O FORTE DO CASTELO >>

O Forte do Castelo constitui um marco da fundação da cidade, tendo surgido em pleno século XVII, no mesmo ano em que a cidade foi fundada. Construído primeiramente de madeira e palha, era denominado Forte do Presépio, em alusão à partida da Frota de Castelo Branco do Maranhão em 25 de dezembro de 1615. Com o decorrer dos anos e após sucessivas modificações, o Forte foi tombado pala União em 1962.

Em 2002, através do Comando da 8a. Região Militar, o Governo do Estado do Pará e o Ministério do Exército formalizaram o contrato de alienação das áreas do Forte e do Palacete das Onze Janelas, que ficava próximo àquele, a partir de então sob a responsabilidade da Secretaria da Cultura, que deveria efetivar a transformação de ambas as áreas em futuros espaços culturais.

No Forte do Castelo encontra-se o Museu do Forte do Castelo de São Jorge (Cidade de Belém, símbolo e memória 1616–1912), que foi criado com o intuito de focar a colonização da Amazônia. Com as primeiras prospecções arqueológicas do terreno, o Museu já conta com uma infinidade de fragmentos de artefatos, como um cachimbo; uma espécie de escova de dente em terracota utilizada por índios; uma moeda de ouro da época do Brasil Colonial, de 1792, cunhada no reinado de D. José I, dentre muitos outros.

Foram retiradas várias partes de construções que, ao longo dos anos, descaracterizaram as instalações originais, procurando-se manter aquelas consideradas pertinentes ao aspecto geral do conjunto. Junto às pesquisas e às prospecções arqueológicas no local, foram encontradas também marcas da antiga Capela do Santo Cristo - datada do período de 1621 e 1626 -, entre o fosso do Forte e o ângulo setentrional do prédio.

O Museu cuidará de apresentar duas mostras de longa duração: na área interna, serão apresentados núcleos temáticos relativos à arqueologia brasileira e amazônica, à arqueologia urbana, à fundação da cidade, e ao próprio Forte, como núcleo fundador da cidade até 1962. Na área externa ficarão à disposição os materiais de artilharia do Forte, hoje completamente restaurados, e o mirante, próximo à Baía do Guajará, local de contemplação para a população e para o turismo em geral.

<< A CASA DAS ONZE JANELAS >>

O local é um dos poucos remanescentes em Belém pertencentes ao século XVIII que, junto ao Forte do Castelo e ao atual Museu de Arte Sacra, compõe o núcleo inaugural da cidade.

O palacete foi reformado ainda no séc. XVIII pelo arquiteto italiano Antônio Giuseppe Landi, que morou, casou-se e faleceu na capital. Posteriormente, o prédio foi adaptado pelo arquiteto Athaide Teive para servir de residência ao Governador. Com o passar dos séculos, também foi usado como hospital militar, sede da Guarda e depósito de materiais do Exército.

Hoje, após o completo restauro, sedia o primeiro Museu de Arte Contemporânea do norte do Brasil, com um acervo estimado em mais de 300 peças adquiridas pela FUNARTE, vindas também do Museu do Estado e de doações feitas pelo Banco Central, sempre com ênfase nas décadas de 70 e 80.

O Museu conta também com uma completa museografia, com enfoque na iluminação, fama já conquistada pelo MAS de Belém.

Junto ao Forte e ao Museu de Arte Sacra, a Casa das Onze Janelas irá recompor , para a população, o núcleo urbano mais primitivo da antiga Santa Maria de Belém do Grão Pará e integrará, com grande eficiência, a paisagem do local à história, ao lazer e à cultura.

<< ESPAÇO CULTURAL SÃO JOSÉ LIBERTO >>

Dando seqüência à revitalização dos espaços da cidade, conta-se finalmente com a restauração, re-adequação e abertura do Espaço Cultural São José Liberto.

O antigo presídio São José é uma construção datada do século XVIII, realizada pelos franciscanos da província de Nossa Senhora da Piedade, sob invocação de São José, em 1749, em terreno herdado do 13º Capitão-Mor do Pará, Hilário de Souza Azevedo, com a intenção de tornar-se um convento. Com a expulsão da Ordem pelo Marquês de Pombal em 1758, a construção passou a pertencer ao Governo, abrigando uma olaria, um hospital e, finalmente, em 1843, a cadeia pública, exercendo esta função até o ano de 2000, data de sua inauguração como Espaço Cultural.

O investimento foi orçado em torno de R$8 milhões, pagos pelo Governo do Estado, que pretendeu transformar o antigo presídio em um local que primasse pelo lazer e pela cultura na região. Hoje, a Associação São José Liberto congrega um espaço de 1.600 metros quadrados, composto por um Pólo Joalheiro, pela Casa do Artesão e pelo Museu das Gemas do Estado.

O Museu das Gemas do Pará tornou-se a grande atração do local, pois reúne peças com até 500 milhões de anos. Entre tantas, há uma rocha composta de pegmatito e quartzo com turmalina, procedente do vale do Rio Tocantins, no sudeste paraense, bem como quartzos, turmalinas, ametistas e diamantes, todas as gemas em estado bruto. Seu acervo também é composto de pontas de flechas confeccionadas em quartzo; calendários utilizados pela civilização Tapajó Konduri, encontradas na região norte do Pará; e os não menos famosos muiraquitãs marajoaras, amuletos de pedra em forma cilíndrica ou batraquial utilizados como protetores para a caça e a pesca, num total de dez exemplares.

Todo esse acervo visa explicitar, à população local e à turística, um pouco mais sobre as riquezas que têm sido exploradas ao longo dos anos na região e que costumam afluir para todo o país, restando, às vezes, muito pouca informação para o próprio povo paraense.

Este Museu, assim como os demais citados, vêm comprovar a importância do resgate da cultura, da valorização do patrimônio paraense e, conseqüentemente, do patrimônio brasileiro, e sobretudo, do papel hoje desempenhado pelo Governo junto à população, profundamente comprometido em resgatar a cidadania, ponto chave na educação de qualquer sociedade, e que, neste caso, tem sido realizada e exercida brilhantemente através dos espaços museais recém-criados.

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