quinta-feira, 9 de junho de 2011

Vaqueiro é exemplo de vigor do Marajó.


Vaqueiro é exemplo de vigor do Marajó

MARAJOARA

A mistura étnica que deu origem ao povo paraense não é marcada apenas pela presença de povos estrangeiros. As migrações no interior do Pará também permitiram trocas e influências entre diversos grupos que habitam a Amazônia. A população marajoara é um deles, que tanto contribuiu para formação desse povo.

Nascido na vila de São Sebastião do Arapixi, localizada no município de Breves, no Marajó, Jair Barroso esbanja saúde e alegria aos 80 anos, dos quais metade viveu em Belém. Ele diz conseguir a jovialidade que ostenta com alimentação saudável, principalmente à base de peixe, hábito que trouxe do Marajó.

Quando jovem, seu Jair trabalhava nas terras da família, como vaqueiro, na criação de gado de seu pai. Junto com ele, transportava bois vivos para vender em Belém. Depois de três dias de viagem, em embarcações, chegavam ao porto de Icoaraci, distrito da capital, e vendiam para o marchante, espécie de atravessador que comprava o boi vivo e revendia para frigoríficos. Foi essa atividade que sustentou por muitos anos a família do marajoara.

Aos 25 anos, seu Jair largou a barra da saia da mãe e decidiu se casar. A marajoara Rosália dos Ramos, 83 anos, é a sua companheira há 55. Para sustentar a esposa e os nove filhos, todos nascidos no Marajó, seu Jair exerceu a profissão de carpinteiro, construindo casas e canoas na vila de São Sebastião de Arapixi e arredores.

Apesar de gostar da vida no Marajó, seu Jair decidiu vir para Belém, em busca de melhores condições de trabalho e educação para os filhos. Hoje, ele conta, orgulhoso, quantos filhos e netos já conquistaram o diploma de nível superior. Os filhos, bem encaminhados, constituíram família em Belém e são agradecidos ao pai por terem conseguido dar as mesmas condições para seus descendentes. “Gostei muito da minha vida no Marajó, mas o que tenho hoje só consegui vindo para Belém”, confessa seu Jair.

Hoje, ele também considera a aposentadoria uma grande conquista, com a qual vive tranqüilo na casa que construiu há mais de 20 anos. Mas, para chegar onde está, a vida foi de muito trabalho. Ao chegar a Belém, seu Jair logo percebeu que a profissão de carpinteiro não seria suficiente. Depois que conseguiu um emprego em uma empresa de engenharia, fez curso de encarregado de obra e se aprimorou na construção civil. Foi assim que seu Jair participou de importantes obras na capital paraense. Para ele, a obra que marcou sua vida foi a construção do Estádio Estadual Jornalista Edgar Campos Proença, o Mangueirão.

Apesar da forte ligação com a capital, seu Jair sente falta das festas animadas do interior, como a tradicional festa de São Sebastião. Na companhia de amigos, ele colocava os festeiros para dançar, tocando violão e cavaquinho. Autodidata, aprendeu a tocar até violino, instrumento que virou uma de suas paixões.

Depois que veio para Belém, ele deixou a aptidão um pouco de lado. Um dia, porém, com quase trinta anos sem tocar, ele resolveu comprar um violino para “brincar” em casa, como ele mesmo diz. A esposa duvidou que ele lembrasse os acordes. Mas, quando ele chegou em casa com o instrumento, que hoje exibe como relíquia na estante da sala, tocou como nos velhos tempos.

Além da aptidão para a música, seu Jair se revela um verdadeiro pé de valsa. Nas festas da vila em que morava “arrastava o salão”, como ele diz. Hoje, nas festas em família, ele é o primeiro a levantar para dançar. “Na última festa de formatura da família, eu dancei tanto que cheguei em casa às cinco da manhã”, confessa aos risos. (Diário do Pará)

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