quinta-feira, 9 de junho de 2011

Influência indígena ultrapassa o tempo.


Influência indígena ultrapassa o tempo

CULTURA VIVA

Ao aportarem em território paraense no início do século XVII, os colonizadores, sobretudo os portugueses, depararam-se com índios de diferentes etnias, começando, inevitavelmente, um contato que também deu origem ao povo que se fixou no Estado. Numa etapa posterior, a mistura com nordestinos, com pequena influência negra, completou a formação do povo do Pará.

A influência indígena, além da miscigenação com os colonizadores, é reconhecida no biótipo, na cultura, por meio de ritmos, alimentação, artesanato e folclore.

O maior incremento populacional no Pará ocorreu a partir das décadas de 60/70, com a construção da Belém-Brasília e em função da implantação no Estado de grandes projetos agropecuários e extrativistas (vegetais e minerais), atraídos pelos incentivos fiscais da Sudam. Foi aí que começou a fixação de grandes correntes de imigrantes, principalmente no sul e no sudeste paraense, formadas por gaúchos, catarinenses, paranaenses, mineiros e goianos, entre outros, originando um caldeamento étnico diversificado.

POPULAÇÃO

Hoje, além de suas riquezas naturais, o Pará possui uma grande riqueza humana, representada por 40 etnias indígenas distribuídas em 72 reservas, num total de 32 mil índios espalhados por mais de 200 aldeias.

Com aproximadamente oito mil índios, os Munduruku formam a mais populosa etnia do Estado, seguidos pelos Kayapó, com cinco mil índios. No outro extremo da pirâmide populacional estão os Anambé, Apiaka, Juruna e Zoé, cada um com menos de duas centenas de índios.

Os povos indígenas que habitam o solo paraense falam línguas de dois grandes troncos linguísticos que predominam no Brasil – Tupi e Jê. As outras línguas faladas pelos índios são Karib, Aruak e línguas isoladas.

Além da variedade linguística, os índios contribuíram para a formação do povo paraense com sua diversidade cultural, incluindo padrões de comportamento e experiências hoje reconhecidas pela Ciência, como a “agrossivicultura”, também conhecida como agricultura por andares – plantar de tudo um pouco para a sobrevivência em harmonia com o meio ambiente.

Guardiões de conhecimentos ancestrais, as comunidades indígenas conhecem, como poucos, detalhes da natureza, incluindo a quantidade de seres vivos na área que ocupam, que inevitavelmente serão vetores de transformações no conhecimento humano, sobretudo descobertas científicas na indústria farmacêutica.

NOVOS TEMPOS

Os índios paraenses também estão se adaptando aos novos tempos. Os Kayapó, Xicrin, Parakanã, Assurini e Arara, que habitam o vale do rio Xingu, região central e sul do Estado, já passaram pela experiência de agregar valor à exploração de castanha-do-Pará utilizando técnicas de prensagem da amêndoa para extração de óleo utilizado na indústria cosmética.

Outros produtos estão sendo explorados pelos índios de forma sustentável em várias regiões do Estado, incluindo óleo de copaíba e patauá.

>> Drama marca a história dos Tenetehara

Os índios Tembé, que habitam a Amazônia há séculos, continuam a incansável luta para não ter sua cultura completamente dilapidada. Eles eram aproximadamente 12 mil e ocupavam parte do território maranhense. Hoje, o “povo do nariz chato”, como é identificado pelos outros grupos indígenas da região do Gurupi, pertence ao tronco linguístico Tupi, é formado por 1.200 pessoas que também continuam lutando pela preservação de suas terras.

Os índios que vivem no rio Gurupi foram um pouco menos afetados culturalmente em função do isolamento e da miscigenação menos acelerada, permitindo a manutenção de traços culturais como língua, crenças, costumes e tradições, enquanto na região do Guamá o impacto do contato quase extingue totalmente o modo de vida Tenetehara.

“Nós precisamos resgatar nossa língua e ensinar as crianças a falar. É nosso maior patrimônio”, admite Zequinha Tembé, cacique da aldeia Frasqueira, localizada na reserva indígena Alto Rio Guamá, que abrange parte dos municípios de Santa Luzia do Pará, Nova Esperança do Piriá e Paragominas, em um total de 279 mil hectares que vão das margens do rio Guamá ao rio Gurupi, na divisa com o Maranhão.

Zequinha Tembé acrescenta que vai sugerir aos líderes das outras aldeias a elaboração de uma cartilha que contenha a línguagem básica e a tradução dos cânticos entoados durante as festas, incluindo a da “Menina Moça”, que festeja a chegada da primeira menstruação das índias.

“É bobagem nos isolarmos dos brancos depois de tantos anos de contato, mas precisamos cultivar e afirmar nossa cultura. Não vamos deixar de ser índios nunca, custe o que custar”, avisa Zequinha Tembé.

DISPERSÃO

O povo Tenetehara se dispersou com a ocupação do Maranhão, ainda na época das Entradas. Os brancos invasores dominaram os índios de Guajaharas. Parte dos Tenethearas - que na língua nativa significa “Nós, gente de verdade” - sucumbiu. Os que conseguiram fugir se estabeleceram ao longo do rio Gurupi na divisa do Pará com o Maranhão ou formaram aldeias às margens dos rios Guamá e Acará. A partir de então, esses índios passaram a se chamar apenas Tembé.

Os Tembé encontraram, ao longo da história, todos os ingredientes para desistir da condição de índio, mas eles insistem em continuar índios, apesar de todas as dificuldades. (Diário do Pará)

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