quinta-feira, 9 de junho de 2011

Vontade de vencer, a marca Argentina no Pará.


Vontade de vencer, a marca Argentina no Pará

HERMANOS

O motivo que trouxe Raul Aguilera da Argentina para o Pará foi bem diferente dos revelados nas reportagens que o Orgulho de ser do Pará tem mostrado, mas uma coisa liga essa história às anteriores - a vontade de vencer, que moveu a vida desse imigrante e o orgulho de ter conquistado tanta coisa boa na nova terra.

Nascido em Fuentes, Raul Aguilera conheceu a esposa Laura Cecília, 81, brasileira filha de portugueses, quando ela visitava uma tia na sua cidade. Como conta dona Laura, foi uma “paixão fulminante”. Entre o namoro e o casamento foi pouco tempo. Com três meses de casados, dona Laura engravidou. Aos seis meses de gestação, decidiram vir morar no Brasil. “Ele foi o argentino mais lindo que vi em toda minha vida”, revela a companheira, de mais de 50 anos.

Na Argentina, Raul Aguilera era jogador de futebol de um time amador e torneiro mecânico formado por um curso técnico. Seu primeiro emprego em terras paraenses foi na antiga empresa Renda Priori. Mas o argentino queria ter o próprio negócio. Apostando na sua experiência com mecânica, montou uma oficina, que era muito procurada pela habilidade de Raul em fabricar peças dos famosos caminhões Fenemê, só encontradas São Paulo.

Para alcançar o sonho de ser rico, incentivado pela mãe, costureira de vestidos de noiva na Argentina, Raul enveredou por vários empreendimentos que, com suor e esforço, fez prosperarem. Depois da oficina mecânica, montou uma indústria de móveis, na rua Manoel Barata, fornecidos para uma grande loja de móveis. Em seguida, entrou para o ramo da serralheria, em Benevides, onde fabricava esquadrilhas, janelas e portas de madeira. Paralelamente, construiu uma mansão com oito quarto, onde a família viveu maior parte de sua história. Por fim, abriu um comércio de ferro, conhecido como Mercadão do Ferro, comandado, hoje, pelo filho mais novo, Ronaldo Aguilera.

Raul Aguilera repassou seu empreendedorismo aos filhos Raul, Roberto, Ricardo e Ronaldo, que hoje são empresários bem-sucedifotos dos e agradecidos ao pai pelo legado que lhes deixou. “Meu pai era obstinado. Ele estabeleceu uma meta de vida e correu atrás até alcançar”, revela o primogênito que leva o mesmo nome do pai.

O patriarca Aguilera repassou muito da cultura argentina aos filhos e por algumas vezes tentou voltar para a Argentina, mas acabava retornando para o Pará. O filho Raul conta que o pai se dizia mais brasileiro que os filhos, nascidos aqui. Se alguém falava mal da sua nova terra, então, ele defendia severamente. “Ele tinha essa terra como a pátria dele porque tudo de bom que teve na vida, conquistou aqui”, revela o primogênito.

Naturalizado brasileiro pouco tempo depois de chegar ao Pará, Raul Aguilera trouxe da terra natal a paixão pelo alviceleste, que transferiu para o Paysandu. Aficionado por futebol, acompanhou de perto o time paraense, mas não apenas como torcedor. Na década de 80, ele ocupou a presidência do clube por três vezes.

David Serruya, amigo da família, lembra a homenagem que fizeram a Aguilera antes de uma partida entre Paysandu e São Paulo, em Belém, alguns anos após sua morte. “Pediram um minuto de silêncio, mas foram quase cinco minutos de aplausos”.

A família de Raul Aguilera, falecido em 2004, aos 75 anos, está na quarta geração, com 16 netos e 5 bisnetos. Alguns netos, assim como os pais, herdaram o tino empreendedor do avô e começaram cedo nos negócios da família. É o caso do primogênito de Raul, o filho, que leva o mesmo nome do pai e do avô.

Mesmo sem fluxo migratório, argentinos vivem dia a dia dos paraenses

Apesar de não haver registro de fluxo migratório de argentinos para o território paraense, ao contrário do que ocorreu para estados do sul e sudeste brasileiro, a presença deles na formação diversificada do povo paraense é facilmente percebida nas histórias contadas pelos seus descendentes que aqui aportaram com a expectativa de uma nova vida.

O argentino Waldemar Abdon chegou a Belém com pouco mais de 20 anos e sempre se dedicou à agricultura no interior de Bragança, no nordeste do Pará. Com muito esforço, comprou terras onde cultivava de tudo. Para sustentar os cinco filhos (Claudio, Raimundo, Nazaré, Tereza e Paulo) ao lado da esposa Maria Andelina, Waldemar levava tudo que produzia para revender no mercado do Ver-o-Peso, contando com a ajuda dos filhos mais velhos. “Meu avô era um homem centrado no que fazia e corria atrás do que queria”, ressalta a neta Suelen Abdon orgulhosa da sua descendência.

A neta conta também que o avô absorveu completamente a cultura brasileira, que foi mesclada com a libanesa por influência da esposa. “Ele costumava dizer que se sentia brasileiro porque foi aqui que construiu sua vida”, lembra a Suelen.

Mas isso não significou um total desprendimento de suas raízes. Na hora do confronto entre as seleções de futebol argentina e brasileira, ele torcia para os dois times. Para tentar compensar essa neutralidade e não deixar completamente de lado a paixão pelo alviceleste, o argentino foi torcedor fanático do Paysandu.

Com o suor do trabalho de quase 50 anos no campo, seu Waldemar teve muitas conquistas, como um belo sítio e uma casa no centro de Bragança. Mas sua principal conquista foi colocar os filhos para estudar, alguns na capital, e seguirem um bom caminho na vida. Além dos valores de trabalho e honestidade, ele repassou a religiosidade aos filhos. Com personalidade firme e decidida, ele nunca pensou em retornar à terra natal, pois fez daqui sua nova pátria. “Essa a postura de correr atrás do que quer foi o que fez meu avô se aproximar do povo paraense”, revela a neta emocionada. (Diário do Pará)

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