"Bem-aventurados os mansos
porque herdarão a terra."
BEM AVENTURADOS - O
Homem não natural. À
semelhança das Bem-aventuranças anteriores, esta é inteiramente oposta ao
pensamento do que a Bíblia chama de Homem
natural. O mundo julga em termos de poder, auto-confiança, agressividade e
conquista. Mas Jesus exaltou traços impopulares de caráter, tais como humildade
de espírito, pesar e agora mansidão.
Jesus
é realmente o revolucionário dos revolucionários. Ele realmente inverte o
sistema e valores da cultura dominante.
A
radicalidade dos ensinos de Cristo implica um estilo de vida totalmente
diferente para seus seguidores. Não é por acaso que Jesus se refere ao fato de
alguém tornar-se cristão como sendo um novo nascimento João 3: 3 e 5. Como Paulo
coloca: E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas
já passaram; eis que se fizeram novas. II Coríntios 5: 17.
O
cristão renascido pertence a um reino inteiramente diferente da cultura em
geral, e até mesmo, infelizmente, da cultura de muitas igrejas. Como resultado,
ele tem um novo conjunto de valores.
O
ensino de Cristo na terceira Bem aventurança mais uma vez se coloca contra a
sabedoria aceitável de nosso mundo. De acordo com Ele, não são os desordeiros,
violentos, agressivos, ou egoístas que herdarão a Terra. E sim os mansos. São
os que percebem a sua debilidade e por
isso possuem humildade de espírito, os que choraram por suas deficiências,
e se comprometeram com o estilo de vida dos mansos, que posteriormente acabarão
herdando a Terra. Esse ensinamento não pode ser obtido de lições de história ou
da leitura do jornal diário.
As
palavras da terceira bem-aventurança não devem ser lidas superficialmente. São
palavras profundas, repletas de sabedoria. São palavras impossíveis de serem
vividas por nós através de nossas próprias forças. À medida que avançarmos nas
Bem-aventuranças teremos uma maior compreensão de nossa necessidade do poder
transformador do espírito Santo em nossa vida.
Hoje
precisamos orar para que Deus não apenas nos conceda discernimento para
percebermos o caminho de Jesus, mas que Ele nos dê poder para caminharmos nele[1].
MANSOS - Ou os humildes, termo
tomado do Saltério na forma grega. O verso 4 poderia ser simplesmente uma
glosa do verso 3; a sua omissão reduziria o número das bem-aventuranças
a sete[2].
As
dificuldades que temos que enfrentar podem ser muito minoradas pôr aquela
mansidão que se esconde em
Cristo. Se possuirmos a humildade de nosso Mestre,
sobrepor-nos-emos aos menosprezos, às repulsas, aos aborrecimentos a que
estamos diariamente expostos, e estes deixarão de nos lançar sombra sobre o
espírito.
A
mais elevada prova de nobreza num cristão é o domínio de si mesmo. Aquele que,
em face de maus tratos ou crueldade, deixa de manter o calmo e confiante, rouba
a Deus de seu direito de nele revelar Sua própria perfeição de caráter.
Humildade de coração é a força que dá vitória aos seguidores de Cristo; é o
penhor de sua ligação com as cortes do alto[3].
Grego: praús manso, suave, gentil. Cristo disse que ele era manso: praús e humilde de coração 11: 29,
e por isso todos os que estão cansados e oprimidos verso 28 podem
ir a ele e achar descanso para sua alma. O equivalente hebraico do grego: praús
é anaw ou ani, pobre, afligido,
humilde, manso. Emprega-se esta palavra hebraica
para descrever a Moisés que era muito manso Números 12: 3. Também
aparece na passagem messiânica de Isaias 61: 1 a 3; Salmo 37: 11,
onde também se traduz como manso.
A mansidão é uma
atitude do coração, da mente e da vida, que prepara o caminho para a
santificação. À vista de Deus, o espírito afável:
praús é de grande de estima. I Pedro 3: 4. A mansidão aparece
repetidas vezes no NT como uma
virtude importantíssima do cristão Gálatas 5: 23; I Timóteo 6: 11.
A
mansidão em relação com Deus significa que teremos de aceitar
sua vontade e a forma em que nos trata, que nos submeteremos a ele em todas as
coisas sem vacilação. Uma pessoa mansa domina perfeitamente sua eu.
Devido ao enaltecimento do eu, nossos primeiros pais perderam o reino que lhes
tinha sido confiado. Por meio da mansidão este pode ser recuperado[4].
A palavra manso pode
trazer a idéia de servidão, fraqueza de caráter, consentimento, incapacidade ou
falta de coragem para enfrentar uma situação delicada. Pode apresentar um retrato
de uma criatura submissa e ineficaz. Porém a palavra manso, no grego: Praus era uma das grandes
palavras da ética.
Aristóteles tinha
muito a dizer da qualidade da mansidão,
grego praotês. Aristóteles seguia um método para definir qualquer virtude que
consistia em encontrar um termo entre o médio e os extremos. Por uma parte o
extremo estava no excesso, e por outra no escasso, entre ambos estava à
virtude, o termo médio feliz. Por exemplo: Em um extremo se encontrava o
pródigo, no meio o avarento, e entre ambos o generoso.
Aristóteles define a
mansidão praotês, como o termo de
equilíbrio, ele via na virtude mansidão o equilíbrio entre o excesso e a falta
de ira. Assim poderia ser traduzida a Bem-aventurança: Bendito o que se indigna a seu devido tempo por uma boa causa e não o
contrário.
Se nos perguntarmos
qual é o devido tempo e qual o contrário diríamos que, por regra geral que na
vida não se deve irritar por um insulto ou uma injúria que se é dirigida
pessoalmente; isto é algo que o cristão não deve nunca ter em conta, mas
deve-se indignar pelas injúrias que fazem outras pessoas. A ira egoísta sempre
é um pecado, a ira limpa do egoísmo pode ser uma grande dinâmica do mundo.
A palavra grega praús tem um segundo sentido. Ela é usada para referir-se a um animal que tenha sido
domesticado, e que era acostumado a obedecer à palavra de mando, que aprendeu a
obedecer. É a palavra usada para referir-se ao animal que aprendeu aceitar o
controle. Assim que a possível tradução desta bem-aventurança poderia ser: Bendita a pessoa que tem sob seu controle
todos seus instintos e paixões! Bendito o que se mantém total e constantemente
debaixo de seu controle.
Não se trata da
bênção da pessoa que se controla a si mesmo, porque isto está fora da
capacidade humana, mas da pessoa que está em íntima sintonia e totalmente sob
controle de Deus, porque só em seu serviço encontramos perfeita liberdade, e em fazer Sua vontade
encontramos paz.
Há um terceiro
enfoque nesta bem-aventurança. Os gregos contrastavam sempre a qualidade que
chamavam praotês, e que a versão RV
traduz por mansidão com qualidade que
chamavam hysêlokardia que quer dizer
altivez de coração. Em praotês se
encontra a verdadeira humildade que lança fora todo o orgulho.
Sem humildade não se
pode aprender, porque o primeiro passo do aprendizado é ser consciente de nossa
própria ignorância.
Quintiliano, o
grande Mestre de oratória hispanoromano, dizia a seus alunos: “Não me cabe
dúvida de que seriam excelentes alunos se não estivessem convencidos que sabem
tudo”. Não se pode ensinar nada a uma
pessoa que crê que sabe tudo. Sem humildade não pode haver tal coisa como o
amor, porque o verdadeiro princípio do amor é o sentimento de indignidade. Sem
humildade não pode haver verdadeira religião, porque toda verdadeira religião
inicia-se por dar-se conta de nossa debilidade própria e de nossa necessidade
de Deus. Uma pessoa só alcança sua verdadeira humanidade quando está consciente
de que é uma criatura e Deus é o Criador, e sem Deus não se pode fazer nada.
Praotês descreve a humildade, a aceitação da necessidade de aprender e a
necessidade de ser perdoado. Descreve a única atitude adequada do homem para
com Deus. Assim a possível tradução desta bem-aventurança seria: “Bendito o que
tem a humildade de reconhecer sua própria ignorância, debilidade e necessidade”[5].
Os mansos são
aqueles que se humilham diante de Deus por reconhecerem sua total dependência
Dele. Como conseqüência são gentis no trato para com o próximo. Moisés revelava
este traço de caráter em notável medida; e a posse do mesmo por Jesus foi uma
das bases para Ele convidar homens e mulheres cansados e oprimidos e
achar alívio e descanso Nele, que era exatamente manso e humilde, Mateus
11: 28 e 29. Quando Deus tiver destruído todos os que em sua arrogância
resistem à sua vontade, os mansos serão os únicos a herdar a Terra[6].
Os mansos. Serenidade, às vezes negativa e às vezes
positivamente boa. Essa Bem-aventurança se alicerça em Salmo 37: 11. Os homens
que padecem sob o mal, sem se deixarem contaminar pelo espírito de amargura mas
com paciência, possuem qualidades aprovadas por Deus. Tais como Natanael são israelitas
em que não há dolo. João 1: 47. Na história da Inglaterra houve pessoas
que, ao serem perseguidas pelo governo e pela sociedade e até pela igreja oficial, herdaram o continente americano[7].
Mansidão não é fraqueza. O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes
não se ufana,
não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se
exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se
com a verdade; tudo sabe, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. I Coríntios 13: 4 a 7.
Apalavra grega traduzida como manso significa gentil, ponderado e cortês,
e implica o exercício do domínio próprio que torna essas qualidades possíveis. Por isso, a New English Bible está perfeitamente
em harmonia com os pensamentos de Jesus, quando traduz Mateus 5: 5 como: Bem-aventurados
os de espírito gentil. O significado de mansidão engloba muitos
dos traços característicos da magistral definição do amor, que Paulo dá na
leitura do texto bíblico.
A mansidão bíblica não deve ser confundida com
indolência. Alguns que aparentam ser mansos podem ser simplesmente
negligentes. Nem
deve ser confundida com fraqueza de personalidade ou caráter. Os personagens
que a Bíblia chama de mansos tiveram grande firmeza de caráter. A pessoa mansa
pode permanecer tão firme ao lado da verdade,
que estaria disposta a morrer por ela se fosse necessário. Os mártires
foram mansos, mas não fracos. A mansidão bíblica e compatível com grande força
e autoridade.
A
mansidão interior nos leva a uma visão do próprio eu. Quando finalmente reconhecer que sou um pecador sem
esperança e sentir tristeza por isso,
estarei pronto para a mansidão. Estarei preparado para colocar todo o
orgulho de lado. Porque tem urna visão realística de si mesmos, os mansos não
são escravizados por atitudes defensivas ou
de retaliação. Uma das maiores
necessidades de nosso mundo, igreja e famílias de mansidão[8].
O
Tratamento de Choque Continua. Não por
força nem por poder, mas pelo Meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos.
Zacarias 4: 6.
Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a
Terra. Mateus 5: 5. Essa declaração causou um grande choque para os judeus nos dias de Jesus. Eles estavam aguardando um Messias
que os libertaria do poder de Roma através da força armada.
O Messias, criam, seria
como Davi, o rei guerreiro. Nos Salmos de Salomão livro pseudoepígrafo
escrito durante o período entre o AT e o NT
não anunciavam que o ungido Filho de Davi
seria um rei que se levantaria dentre o povo para libertar Israel de seus inimigos? Ele
aniquilaria todos os seus bens com vara de ferro, para destruir as nações ímpias
com a palavra de Sua boca. Salmos de Salomão 17: 26 e 27.
A última coisa que os judeus do primeiro século
desejavam era um Messias manso. Eles queriam
um líder que pudesse e desse a Roma o que ela merecia. Jesus era o
oposto do modelo que eles desejavam e aguardavam.
Bem, é fácil para nós cristãos
percebermos que os judeus estavam errados. Mas não somos culpados de apresentar
o mesmo tipo de pensamento às vezes? Também
não temos a tendência de prestar honras aos bem-sucedidos e glorificar as realizações dos grandes pregadores e
lideres da igreja, como se a batalha fosse ganha pelas palavras e esforços humanos? E não somos também tentados, como
Davi, a confiar em organização e números em busca de força? Boas como
essas coisas possam parecer, elas não são a fonte do sucesso do cristão.
Deus tem inúmeras maneiras de levar a cabo a
comissão do evangelho e introduzir a plenitude do reino, das quais nada
sabemos. De vez em quando precisamos reler a história de Gideão. No caso dele,
Deus continuou reduzindo os números em vez de
acrescentar, antes de conceder a vitória.
No reino de Cristo, é a
mansidão que está na base do sucesso, e não o poder humano. Precisamos nos lembrar de que a
vitória, tanto em nossa vida pessoal como na igreja em geral, não vem por
força, nem por poder, mas pelo Espírito de Deus[9].
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