quinta-feira, 17 de novembro de 2011

"A QUEM DEVO OBEDECER?"


“A QUEM DEVO OBEDECER?”

Fui tomado por esta pergunta quando da saída de uma reunião de catequistas em uma paróquia onde, havia celebrado a Novena de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em uma terça-feira.
Um deles aproximou-se de mim e meio que timidamente me fez a pergunta: Diácono, a quem devo obedecer?”
Perguntei-lhe o porquê daquela interrogação. O mesmo disse que acabara de sair de uma reunião juntamente com outros catequistas, mas, que estava em dúvida a cerca de algo que havia sido colocado na reunião. Disse-me o jovem: “Minha consciência me diz que devo fazer outra coisa!”
Para não intimidá-lo não quis saber o que foi colocado na reunião e que levantou a dúvida naquele jovem rapaz.
Contei a ele que, um dos discípulos de Tomaz de Aquino, grande doutor da Igreja Católica Romana, perguntou um dia: “Mestre, se o papa pedir que eu faça algo e minha consciência me dizer para fazer outra coisa o que devo fazer a quem devo obedecer?”
Vejam meus irmãos, a cada um seu papa, seu mestre, seu guru, a pessoa de referência, ilustre ou desconhecida, que para nós representa a autoridade autorizada. Para alguns não é uma pessoa, mas, um livro, uma doutrina, uma bíblia ou até para outros, um Alcorão.
Se o livro sagrado, a doutrina, o ensinamento, a autoridade me diz para fazer alguma coisa e minha consciência não só resmunga, mas, com sinceridade me indica que devo fazer outra coisa, a quem obedecer? A quem devo dar minha confiança e meu consentimento?
Qual foi a resposta de Tomas de Aquino, grande mestre em teologia e discípulo fiel da Sé Romana? “Escuta a voz da tua consciência, buscando esclarecê-la”.
Foi exatamente a resposta que eu dei aquele jovem. Plagiei as palavras de Aquino: “Escuta a voz da tua consciência e peça que ela te esclareça”.
Podemos admirar a sabedoria e o bom senso dessa resposta de Aquino que, poderá nos ajudar quando nos encontramos no mesmo tipo de interrogação, algumas vezes dolorosa.
“Escuta a voz da tua consciência”. Se Tomaz de Aquino tivesse dito: “Escuta a voz da autoridade, do pastor, do padre, do bispo, da freira, do guru, a voz do papa, contra a tua consciência”, de um ponto de vista psicológico só teria acrescentado a perturbação para essa pessoa, tornando-a mais esquizofrênica, ou, de um ponto de vista moral, mais hipócrita.
Essa é a situação de muitos cristãos ou de supostos discípulos de hoje, que obedecem a ordens e a instruções sem verdadeiramente aprová-las com a inteligência e com o coração.
Observem que Tomaz de Aquino diz: “buscando esclarecê-la”. Escutar a voz de sua consciência não é suficiente; ela não está jamais totalmente purificada e pode ser o local de todo tipo de ilusões ou de fantasias... Ela precisa ser o tempo todo, esclarecida. Iluminada pesa análise, pela reflexão própria ou pela tradição dos antigos.
Uma vez esclarecida, podemos talvez dar nosso acordo ou nosso consentimento à palavra da autoridade, uma vez que o coração e a inteligência tenham reconhecido a parte de verdade que ela veicula.
Assim com muito discernimento, Tomaz de Aquino não propõe nem a obediência cega a uma ordem estabelecida, ou a demissão diante de uma autoridade toda poderosa e respeitada, nem a fantasia, quando se trataria de seguir o próprio e pequeno ponto de vista, a própria inspiração ou, até mesmo, a própria revelação, sem antes buscar experimentá-la, esclarecê-la.
Podemos então resumir que, se essa resposta de Tomaz de Aquino nos dá o direito de nos enganarmos, não nos dá o direito de mentir para nós mesmos. Podemos sempre nos enganar, e o próprio papa, guru, padre, pastor, ou a autoridade de referência podem sempre estar equivocados.
Até a morte, não cessaremos de cometer erros. Graças a eles, se soubermos reconhecê-los, aproximar-nos-emos da verdade.
Mas podemos também escolher não mentir para nós mesmos, não ir contra nossa consciência, sem vaidade nem pretensão de “sermos detentores da verdade”, mas, buscando com paciência descobri-la por meio das ambigüidades de nossa condição humana.
Eu, você, todos temos o direito de errar, mas, em todo caso, pode sempre voltar a trás. Temos até mesmo o direito de mentir (há, algumas vezes, mentiras ligadas a nossos medos e a nosso inconsciente); mesmo que isso seja mais grave, você pode sempre se arrepender. Mas, diante de uma escolha, de uma decisão, qualquer que seja ela, nenhuma autoridade pode acreditar amar e ser livre em nosso lugar.
Chega um momento em nossa vida no qual, se ainda podemos nos enganar, não podemos mais mentir para nós mesmos. Isso exige coragem, pois nem sempre essa postura é compreendida por aqueles à nossa volta; ela pode até mesmo ser condenada pela autoridade ou pela doutrina que transgredimos.
Mas, se formos contra nossa consciência e contra aquilo que de maneira imperfeita temos como verdadeiro, ficaremos doentes, entraremos em um estado de mal estar que não está distante daquilo que na psicologia clinica é chamada de depressão.
Tomaz de Aquino não nos encoraja ao erro, mas, ao discernimento, à verificação interior quanto à nossa liberdade, quando se trata de aderir a um ensinamento ou a uma doutrina.
Aceitar que nos enganamos aceitar mentir cada vez menos para nós mesmos – que belo caminho de vida! Passar da verdade ou das verdades que temos à verdade que somos.
Acredito ter ajudado aquele jovem rapaz, pois procurei encorajá-lo a obedecer a sua consciência com discernimento, sabedoria e livre arbítrio.
A refletir sobre as coisas que se passam ao seu redor. A meditar e fazer um senso-crítico de tudo o que lhe falam ou lhe dizem como “verdade”.
A ver na autoridade não um “deus”, mais um homem que, pode igualmente a todos, se enganar, equivocar, errar nas suas disposições e naquilo que ele discorre.
A olhar a doutrina não como algo que aprisiona escraviza, mas, como luz para o seu caminho, farol na vereda de sua existência.
Que a Virgem Maria nos guarde com o seu manto sagrado e que a luz do Espírito Santo nos ilumine para que com discernimento e sabedoria possamos entender os sinais de Deus em nossas vidas. Amém!

Diácono Luiz Gonzaga
Arquidiocese de Belém – Pará – Amazônia – Brasil

diaconoluizgonzaga@gmail.com
diaconoluizgonzaga.blogspot.com

Um comentário:

  1. Diácono gostei muto do seu blog e da sua iniciativa de evangelizar através da Internet,criei um blog para a Pastoral da Catequese da Paróquia Santa Rita:http://catequesejovem.blogspot.com/ podemos trocar ideias.

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