segunda-feira, 5 de março de 2012

OS LEIGOS NA LUMEN GENTIUM.

Os leigos na Lumen Gentium

NELSON DE FIGUEIREDO RIBEIRO. UM LEIGO DA ARQUIDIOCESE DE BELÉM

O Concilio Vaticano II deu um tratamento muito especial aos leigos, chegando mesmo a baixar um decreto conciliar especificamente sobre o apostolado dos leigos intitulado "Apostolicam Actuositatem". Além disso, tratou da questão do laicato no decreto "Ad Gentes" que trata da atividade missionária e baixou uma constituição pastoral denominada de "Gaudiun Et Spes" que dispõe sobre o papel da Igreja no mundo, sem dúvida, um dos documentos mais profundos e amplos que o Concílio emitiu.

Em princípio, tudo o que já foi dito sobre o povo de Deus, aplica-se aos leigos, clérigos e religiosos. Os leigos devem ter sua missão fundamentada nas peculiaridades do mundo em que vivemos. Por isso mesmo, os pastores dedicam-se muito acompanhando o papel dos leigos, segundo seus carismas para que tudo se oriente para a construção do mundo no mistério do amor.

Diz então o Concílio que "denominam-se leigos todos os fiéis que não pertencem às ordens sagradas, nem são religiosos reconhecidos pela Igreja". Assim são os fiéis batizados que como tal participam como membros do povo de Deus da função sacerdotal, profética e régia de Cristo. Assim, os leigos, no plano eclesial, têm um caráter secular. Sua função é administrar e ordenar as coisas temporais em busca do reino de Deus, nos trabalhos que realizam, nas profissões que exercem, nas condições próprias da vida familiar e social, porém, sempre chamados por Deus para viver segundo o espírito do Evangelho, o fermento da santificação no mundo.

A partir dessa concepção, os leigos têm um papel excepcional quando atingem as situações do mundo em que as ordens consagradas ou mesmo toda a Igreja hierárquica não têm condições de penetrar. Os leigos são, portanto, uma "longa manus" da Igreja na consagração no mundo, não só pelo seu testemunho de vida, mas, sobretudo pela oração e os elos maciços que mantêm com a Igreja.

Os leigos são portadores de uma dignidade especial no povo de Deus. Ressalta São Paulo: "Num só corpo há muitos membros e esses membros não têm a mesma função. O mesmo acontece conosco, embora sendo muitos, formamos um só corpo com Cristo, e, cada um por sua vez, é membro dos outros" (Rm. 12.4). Por isso o povo de Deus é uno "um só Senhor, uma só fé, um só batismo" (Ef. 4.5). Uma só é a salvação, uma só é a esperança, uma só é a caridade. Por isso mesmo, no seio da Igreja não pode haver diferenças de raça ou nação, em condição social ou de sexo, "não há mais diferença entre judeu e grego, entre escravo e homem livre, entre homem e mulher, pois todos vocês são um só em Cristo Jesus" (Gl. 3.28).

Dentro dessas premissas, embora nem todos sigam o mesmo caminho, são todos chamados à santidade e herdeiros da mesma fé segundo a justiça de Deus (Cf. 2 Pedro 1.1). Assim, todos são iguais em dignidade, embora com funções diferentes, segundo seu respectivo carisma. É dentro desse raciocínio que Santo Agostinho em um dos seus sermões afirma: "Assusta-me ser de vocês, consola-me estar com vocês, sou de vocês como Bispo, estou com vocês como cristão. Bispo é nome, função; cristão, o nome da graça. Um, representa o perigo, o outro representa a salvação".

Os leigos então exercem o seu apostolado objetivando a formação do povo de Deus e constituem um só corpo com Cristo que é a cabeça. Trata-se, assim, de um apostolado pelo qual os leigos participam da missão salvadora da Igreja, a qual se vincula de forma profunda pelo batismo e pela confirmação. É bom notar que esse apostolado se apóia sobretudo na caridade para com Deus e os homens, tornando assim a Igreja presente e ativa nos lugares e circunstâncias onde somente por intermédio dos leigos pode atuar. Estamos então diante de um dom recebido pelos leigos que se torna testemunho e instrumento da missão da Igreja recebida de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Por isso, tem os leigos uma participação direta e especial no múnus sacerdotal, no múnus profético e no múnus régio, apanágios da Igreja hierárquica, a qual os leigos nunca devem esquecer que tem um elo fundamental e subordinado.

Assim, o leigo é chamado a dar testemunho da ressurreição e da vida de Cristo enquanto sinal do Deus Vivo diante do mundo. Cada um dos leigos então é chamado a alimentar o mundo com os frutos espirituais, neles derramando o espírito que anima os pobres, os mansos, os pacíficos, proclamados bem-aventurados por Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho.



Fonte: O laicato

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