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A segunda morte de Eduardo Camposby blogdogersonnogueira |
Por Paulo Nogueira, do DCM
Mataram de novo Eduardo Campos. Meus sinceros sentimentos à viúva, aos filhos, à mãe e a todos os amigos.
Você
tem noção do absurdo que é a maneira como a mídia destrói reputações ao
examinar o caso específico de Campos no chamado escândalo da Petrobras.
Não existe risco nenhum de alguém dizer, num tribunal: provas, por
favor.
Então você – falo aqui das companhias de mídia – tem licença para matar.
Em
sociedades mais avançadas, publicar acusações gravíssimas com base em
palavras de um delator traz um risco sério para empresas de mídia. No
Brasil, não acontece nada.
Gosto
de citar o caso exemplar de Paulo Francis, em que estava envolvida, por
coincidência, a Petrobras. Francis, numa campanha contra a Petrossauro,
como a chamava, acusou os diretores da empresa de corruptos.
Os
diretores, se o processassem no Brasil, não conseguiriam nada. Seriam
acusados de conspirar contra a liberdade de imprensa e continuariam a
ser massacrados por Francis.
Acontece
que uma das calúnias de Francis foi proferida nos Estados Unidos, no
Manhattan Connection. E então os executivos da Petrobras puderam
processá-lo pela justiça americana. Pediram a ele, nos Estados Unidos,
uma só coisa: provas. Ele não tinha nada.
Na
iminência de uma multa que o quebraria, ele entrou num processo de
turbulência mental do qual resultou um enfarto fatal. Elio Gaspari disse
que Joel Rennó, o então presidente da Petrobras, matou Francis. Na
verdade, Francis matou Francis.
São conhecidas as pressões que FHC e Serra, então no poder, fizeram para que os homens da Petrobras desistissem do processo.
No
Brasil, a sociedade está à mercê da mídia. Como a justiça é inoperante,
jornais e revistas têm o que um premiê britânico chamou, num confronto
com um barão da mídia, de “o atributo das prostitutas” – o poder sem
responsabilidade.
Ninguém
sabe ainda em que circunstâncias o delator Paulo Roberto Costa falou. O
que se tem de concreto é que ele pode incriminar quem quiser, pelo
menos neste momento.
Mesmo
assim, a imprensa vai divulgando nomes de citados sem a menor
cerimônia, como se fosse uma banalidade. O real objetivo, ninguém se
ilude, é eleitoral. Ninguém está interessado em moralizar nada.
Se
houvesse um intuito de limpeza ética, o caso do metrô de São Paulo
teria sido investigado em profundidade, bem como os 450 quilos de pasta
de cocaína encontrados num helicóptero de amigos de Aécio.
A
posição absurda desfrutada pela mídia no Brasil foi bem descrita num
tuíte do senador Roberto Requião, candidato ao governo do Paraná. “Até
agora o Henrique Alves manteve engavetado meu projeto de direito de
resposta. E agora. Deve ter entendido que sua aprovação é importante?”
Henrique
Alves é o presidente da Câmara. Como Eduardo Campos, está na lista de
Costa. No Brasil, sequer o direito de resposta vigora.
Ayres
de Britto, ao anular a Lei de Imprensa, jogou fora coisas vitais da
defesa da sociedade, como o direito de resposta. Quando aparentemente
ele se movimentava para corrigir o erro, foi apanhado por uma denúncia
da Folha que envolvia um genro seu. Parece ter entendido o recado, e não
mexeu mais no assunto. Virou, no Mensalão, amigo da imprensa, e
escreveu o prefácio de um livro de Merval sobre o assunto.
Justiça
e mídia deveriam se fiscalizar uma à outra, mas no Brasil acabaram se
abraçando e se autoprotegendo. Um dia as fotos em que Merval e Ayres de
Britto se abraçam, sorridentes, no lançamento do livro merecerão o
devido repúdio da sociedade. “Como pudemos descer a este ponto?”, as
pessoas se perguntarão.
É
neste cenário que Eduardo Campos é morto pela segunda vez. Os
assassinos de sua reputação agiram sabendo que gozam de total
impunidade.
Mais uma vez, minhas condolências à família e aos amigos de Campos.
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