sexta-feira, 1 de julho de 2011

RESPEITEM O ESPÍRITO SANTO NA VIDA DA IGREJA


Respeitem o Espírito Santo na vida da Igreja

Maureen A. Tilley , professora de Teologia da Fordham University, nos EUA, abriu o 66º Encontro Anual da Sociedade Teológica Católica dos Estados Unidos – CTSA nesta sexta-feira, em San Jose, Califórnia, fazendo diretamente uma pergunta: “O que significa ser Santo?”

A reportagem é de Thomas C. Fox, publicada no sítio National Catholic Reporter, 10-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto e revisada pela IHU On-Line.

Sua conferência desdobrou-se por meio da história patrística, dos modelos de reação da Igreja ao pecado e à desunião, examinando o recente tratamento dado pelo Vaticano aos irmãos “desobedientes”, e terminou com um apelo a implorar coletivamente a inspiração e a direção do Espírito Santo.

O tema do encontro deste ano da CTSA aborda a santidade. Oficialmente, o tema da conferência é “Católico inteiramente uno: Santos e santidade na Igreja pós-apostólica”, que parece deixar muito espaço para a discussão teológica.

Seu discurso ao público foi seguido de um caloroso discurso de boas-vindas do bispo de San Jose, Dom Patrick Joseph McGrath (foto).

“O uso predominante do termo ‘santo’ se refere ao Espírito Santo, ativo na comunidade cristã unida”, disse Tilley, referindo-se às comunidades da Igreja primitiva. “O Espírito é a fonte da unidade. Por isso, a santidade não é um projeto individual, mas sim comunitário. É a Igreja – e não os indivíduos – que é chamada de santa no Novo Testamento”.

Esse modelo funcionou no início, mas acabou tendo problemas com o crescimento da Igreja. Tornou-se cada vez mais difícil, disse Tilley – recentemente nomeada professora titular na Fordham –, particularmente quando se tratou de lidar com membros da Igreja que agiam contra a unidade, incluindo os pecadores dentro da Igreja.

Ela, então, esboçou várias respostas da Igreja primitiva ao dilema de acomodar a pecaminosidade em uma Igreja pura, cheia do Espírito Santo. De alguma forma, devia haver um lugar para a fragilidade humana.

Ao longo do tempo, disse ela, a Igreja testemunhou “uma conexão que ia finalmente diminuindo entre a Igreja, o Espírito Santo e a santidade, ou a falta dela”.

Um bispo ou um padre pecador pode transmitir a graça de Deus nos sacramentos? Os batismos que eles ministram são válidos e repletos da graça?

“Gradualmente”, continuou Tilley, “os pecados individuais dos membros da Igreja deixaram de ter importância para a questão da unidade ou da santidade. O ensinamento sobre a possessão e a ação do Espírito Santo era o que os mantinha unidos, e isso também foi muito reduzido”, disse ela.

“Assim, podemos ver, na evolução do pensamento patrístico ocidental, um movimento de uma Igreja estritamente delimitada, sem nenhum lugar para o mal, a uma Igreja em que o mal deve ser tolerado até certo ponto, até o fim dos tempos, para o bem daqueles que Deus sabe que vão se arrepender antes da Colheita no fim do mundo”.

Então, voltando-se à história da Igreja do século XX, Tilley disse ter visto líderes da Igreja apelando a diversos “modelos” de Igreja, enquanto eram forçados a acomodar ou a confrontar os irmãos desobedientes.

Ela comparou o modo como o Vaticano, de um lado, lidou com a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e a Associação Patriótica Católica Chinesa; e, de outro lado, com os bispos e teólogos.

“O desejo de unidade para os dois primeiros casos – a Fraternidade Sacerdotal São Pio X e a Associação Patriótica Católica Chinesa – revela um modelo de Igreja que acha que pode cuidar de si mesma e se foca na preocupação com o bem-estar das almas”.

As disputas do Vaticano com os bispos e teólogos partiram de um modelo diferente, disse ela.

Repetidamente, João Paulo II e Bento XVI, afirmou, estenderam a mão à Fraternidade São Pio X e à Associação Patriótica Católica Chinesa. Esse não foi o caso, porém, da forma como trataram os membros do seu rebanho.

“Para as pessoas que não estão do lado de fora ou mesmo às margens, para os católicos ativos, a resposta vaticana é diferente”. Aqui, disse ela, a unidade exigiu “santificação pessoal, que, por sua vez, é reconhecida não na partilha do Espírito como já se fez, mas na adesão à ortopraxia, elevada ao status de ortodoxia”.

Tilley usou como exemplos do tratamento do Vaticano:

O arcebispo Raymond Hunthausen, de Seattle, para quem foi nomeado um coadjutor que lhe removeu da liderança diocesana.
O bispo Jacques Gaillot que foi retirado como bispo de Évreux, na França, para bispo titular de Partênia, um lugar sem nenhum cristão na Argélia.
Inúmeros bispos depostos de suas sedes nos últimos anos na África subsaariana.
E o bispo William Morris, de Toowoomba, na Austrália, que foi forçado a renunciar no mês passado.
Enquanto isso, vários teólogos, disse ela, tiveram seu trabalho considerado como inaceitável para a Congregação para a Doutrina da Fé. “A resposta a esses homens e mulheres foi diferente. Bispos errantes, agora, encontram-se fora dos círculos do poder, ou fora do seu ofício, e teólogos veem suas obras serem condenadas sem serem ouvidos”.

Tilley perguntou: “A Igreja é menos capaz de lidar com bispos e teólogos do que com cismáticos? Os atos de bispos e teólogos representam uma ameaça para a unidade, a santidade e a catolicidade da Igreja mais do que a Fraternidade Sacerdotal S. Pio X ou a Associação Patriótica Católica Chinesa?

Citando Bento XVI, a resposta é “sim”, disse Tilley. Ele diz que “hoje vemos isso de um modo realmente terrificante: que a maior perseguição da Igreja não vem de inimigos externos, mas nasce do pecado na Igreja”.

Ela concluiu afirmando que esse fenômeno revela duas ideias diferentes da Igreja como una, santa e católica. “Uma parece estar confiante de que a Igreja tem o que é preciso para cuidar dos pecadores errantes e trazê-los de volta ao rebanho. A outra é o medo de que o mundo mau, fora da Igreja e especialmente dentro dela, é capaz de seduzir e desviar as ovelhas”.

“Pode-se dizer: ‘Bem, problemas diferentes exigem soluções diferentes’. Isso também pode ser verdade. Mas as soluções diferentes tendem a refletir as concepções de Igreja e a engendrar, formar e reforçar diferentes conceitos e tipos de Igrejas, uma confiante, e outra temerosa”.

“Quem deve escolher? Os próprios santos. Eles já estão escolhendo quando admitem à comunhão os católicos divorciados e de segunda união. Eles já estão escolhendo naquilo que compram e leem. Estão fazendo boas escolhas? São direcionados pelo Espírito Santo? Como eles – vocês – estão preparados para fazer boas escolhas?”.

Tilley terminou dizendo que é preciso haver uma recuperação do respeito, não apenas da boca para fora, ao papel do Espírito Santo de engendrar a unidade e a santidade na Igreja.
28 de junho de 2011 | Categoria: Artigos

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