quinta-feira, 11 de março de 2010

'SOU MULHER PARA QUE?"


SOU MULHER PARA QUÊ?
Psicóloga Lúcia Abreu
Você e eu fazemos parte da metade da humanidade, as mulheres. É natural então que nos perguntemos se isto tem um sentido especial. Qual é a contribuição específica que eu posso dar e o que se espera de mim como mulher? Não como profissional, como ser humano, como ser social, mas como mulher.
O que observamos é que na mulher costumam predominar certas características que chamamos de femininas. E volto a perguntar “O que é que eu sinto que tenho para dar ou para viver especificamente como mulher neste mundo, neste meu trabalho, neste meu casamento, neste meu relacionamento com meus filhos? E o que é que os outros esperam de mim como mulher?” Pode ser que as respostas não coincidam. Mas fazer este tipo de pergunta já é um passo para me definir melhor em relação a meu sexo.
Aliás, não existem respostas padrões. Existe, sim, uma sensação em cada mulher de que ela pode dar algo de diferente na vida, precisamente porque é mulher, e esse algo é tão importante quanto o que o homem pode dar, embora diferente, já que ela faz parte dos 50% da humanidade.
A primeira idéia que me vem é que a mulher é um mistério, assim como a vida, a morte e o sofrimento são mistérios. Mas a vida se desenvolve melhor onde há uma mulher com seu calor, proteção, alimento, compreensão (não explicação).
Isso tudo tem a ver com o feminino. O gosto pelo enfeite, pelo perfume, pelas cores, pela arrumação da casa, a intuição, certa magia, a fada e a bruxa, todas essas características são predominantemente femininas. Mas gostaria aqui de me limitar a um aspecto da psique da mulher, que têm sido menos estudado. Trata-se da noção de tempo, da maneira como é vivido pela mulher e que se diferencia da vivência da psique masculina.
A mulher vive o tempo muito mais como duração, por um lado, e por outro, de maneira mais cíclica, enquanto que o homem vive o tempo mais como uma sucessão de instantes e de maneira mais linear. Na vida cotidiana isso se manifesta de múltiplas formas. Na vida sexual, para a mulher não existe apenas o tempo, ou o instante do clímax sexual, mas todo um tempo antes e depois, que fazem parte da relação sexual.
Isto cria inúmeros conflitos entre o homem e a mulher, quando não é respeitada essa diferença do tempo de cada um. Mas manifesta-se também em relação aos planos para o futuro, no tempo que você define como ideal para realizar alguma coisa; é um tempo mais psicológico do que físico. Manifesta-se na sensação, geralmente mais forte na mulher, de pertencer a uma história, por ela fazer história principalmente através da procriação.
Há momentos em que uma noção de tempo deveria prevalecer sobre outra noção de tempo, e vice-versa, para qualquer ser humano, seja homem ou mulher. O interessante é que cada um descubra outra maneira de vivenciar o tempo e assim abrir o horizonte mental.
Poderíamos analisar muitos outros pontos em que as maneiras feminina e masculina de conceber a vida são diferentes. Então, para que ser mulher? Não se trata de modo algum de dizer que existem padrões ideais de comportamento, nos quais o masculino e feminino teriam vez igual. Isso é fantasia pura.
O importante é irmos descobrindo em nós o nosso próprio modo de vivenciar as coisas e sabermos ouvir qual é o modo do outro, para assim termos uma vivência mais ampla e completa da vida.

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