quarta-feira, 17 de março de 2010

OS FILHOS CESCEM MAIS...


OS FILHOS CRESCEM, MAS O AFETO NÃO DIMINUE

Psicóloga Lúcia Abreu

Um dia as mães (e porque não dizer os pais também) tomam um choque: percebem que seus filhos estão cada vez mais se tornando donos de seu nariz. Para alguns casais, especialmente para algumas mães esse momento é muito difícil, porque elas foram educadas para educar; viver em função dos filhos, criar seria a meta, o objetivo principal da vida.
Vou me deter no modelo de mãe “dominadora”, a que foi criada para ser mãe.
Quando os filhos começam a sair sozinhos, trabalhar, ou estudar fora, a sensação que as mães têm é de abandono e ingratidão. Muitas acham que como deram de tudo pros filhos ( e deram mesmo), não se conformam que o filho agora assuma as rédeas da vida; Pra ela é como se ele estivesse literalmente descartando a mãe. Agora ele não pára mais em casa, não telefona, enfim... ele passa a viver apenas o momento dele. E a mãe não se conforma com isso: passa a atacar de forma inconsciente, os amigos e os namorados, na tentativa de sabotar seus relacionamentos e assim ter o filho ou a filha de volta aos seus braços maternos.
Só que os filhos não percebem a coisa dessa maneira. O que pode parecer ingratidão para as mães, para os filhos é algo absolutamente natural. Essa discrepância em perceber as coisas se dá por causa da diferença de idade, e conseqüentemente de gerações, de hábitos, etc...
Vamos olhar pelo ângulo do filho:
Num determinado momento, ele percebe que já está grande demais para "ficar deitado eternamente em berço esplêndido"; ele nota que não terá mãe e pai para sempre. Nesse momento, eles percebem que precisam "dar um jeito na própria vida", e começam a buscar o relacionamento com o mundo.
Claro que nem tudo são flores na vida deles: existem atritos, conflitos, decepções, mas isso faz parte do crescimento. É fundamental para a formação do sujeito que ele passe por esse caminho de pedras.
Na cabeça deles (muitas vezes) o pensamento que passa é o seguinte:
"Eu sei que sou amado pelos meus pais, mas não sei se sou amado pelo mundo. Preciso lutar para ser aceito na sociedade da mesma forma que sou aceito pelos meus pais. A única maneira de fazer isso é ir a luta pelo meu espaço".
A mãe dominadora acha que deve conduzir o filho passo a passo nos caminhos da vida. Ela se anula por muito tempo além do necessário, na tentativa de sabotar o contato do filho com o mundo. E sem sucesso. O resultado disso é conhecido por todos: a depressão e a melancolia.
É fundamental que a mãe perceba que, embora os filhos cresçam, o afeto não diminui. Muda-se apenas a forma de demonstrá-lo. Os filhos não deixam de amar os pais quando começam a amar outras pessoas, eles estão apenas passando adiante um sentimento que receberam no berço.
Para as mães que não conseguem se desprender, a sugestão é que procurem outras atividades que lhe dêem prazer. É fundamental que ela se perceba VIVA; que ela se perceba como uma PESSOA que não precisa manter vínculos de apego para ser uma pessoa inteira. E isso só se consegue com muita força de vontade, e em alguns casos, com a ajuda de um especialista.

Lúcia Abreu é psicóloga clínica com espec. em terapia de casal e família.

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